20 de novembro: relembrar a resistência e construir ações coletivas de combate ao racismo
Há 40 anos, o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, foi instituído como uma homenagem à luta de Palmares, uma lembrança constante da resistência do povo preto. Com toda a história de luta contra a escravidão, tão presente no Brasil, a demora para que a data fosse celebrada é só um dos muitos exemplos da lentidão histórica que o país enfrenta quando falamos do combate ao racismo.
Hoje, além de relembrá-lo, gostaríamos de dividir também a história de Dandara, uma das muitas mulheres que estiveram à frente de Palmares. Guerreira, ela foi esposa e parceira de Zumbi, e assim como tantos outros personagens negros e negras, teve sua história apagada.
Dandara foi uma liderança feminina em Palmares, lutou contra o sistema escravocrata do séc. XVIII lado a lado com outros líderes mulheres e homens. Sua história é pouco documentada já que há uma grande tentativa de apagamento histórico destas figuras, mas pelo que se sabe há possibilidade de que ela tenha nascido no Brasil e se estabelecido em Palmares ainda quando era menina. Dandara trabalhava na produção de mandioca, caçava e lutava capoeira, estando à frente das lutas físicas contra a escravidão. Sobre sua morte não há consenso, mas sabe-se que ela foi morta em 06 de fevereiro de 1694, após um ataque a Palmares.
A resistência que Palmares ofereceu à população negra é celebrada no dia 20 de novembro, para jamais esquecer a importância desse espaço coletivo na luta abolicionista e escancarar a importância da organização coletiva para a luta contra o racismo que existe ainda hoje.
Dandara, assim como outras mulheres negras apagadas da nossa história devido ao racismo, deve também ser relembrada e celebrada. A data de hoje deve servir para reflexão e proposição de ações concretas contra o machismo e o racismo que fazem com que mulheres negras ainda sofram mais violência, com o desemprego, com a falta de condições de vida como um todo e com o cuidado com familiares. Dados que apontam para isso podem ser vistos no nosso material antirracista informativo.
Reforçamos o convite, para todos os servidores e servidoras, para estarem com a gente neste 20 de novembro dialogando sobre estas problemáticas no 1º Afro Araucária, um evento que reúne música, arte, literatura, e debate, voltado a dar visibilidade à luta antirracista e espaço a artistas negros e negras. O evento será próximo ao Parque Cachoeira na Rua Guanabara n °50, a partir das 9h da manhã. O bate-papo promovido pelos convidados do evento que inclui o SIFAR irá começar às 9h30, vem compor a luta antirracista com a gente!
E para quem quiser saber mais sobre a história de Dandara, em 2017 a autora brasileira Jarid Arraes escreveu um livro em que conta, através de cordéis, a história de mulheres heroínas negras brasileiras, Dandara está entre elas, confira:
Se você já ouviu falar
Da história de Zumbi
Peço então sua atenção
Pro que vou contar aqui
Talvez você não conheça
Por incrível que pareça
Por isso eu vou insistir.
O quilombo dos Palmares
Por Zumbi foi liderado
E nesse mesmo período
Dizem que ele foi casado
Com uma forte guerreira
Que tomou a dianteira
Pelo povo escravizado.
Foi Dandara o seu nome
Que é quase como lenda
Não há provas de sua vida
E talvez te surpreenda
Com um ar de fantasia
De coragem e de magia
Mas assim se compreenda.
Não há dados registrados
Sobre onde ela nasceu
Se foi ela brasileira
Ou na África cresceu
Se ela tinha liberdade
Ou se na dificuldade
Ela livre se verteu.
Com Zumbi teve três filhos
E seus nomes vou citar:
Motumbo, Aristogíton
E Harmódio a completar
Eram esses os rebentos
De um casal muito sedento
Que se uniu para lutar.
Mas Dandara não queria
Um papel limitador
Ser a mãe que cozinhava
Tendo um perfil cuidador
As batalhas lhe chamavam
E seus olhos despertavam
Pelo desafiador.
Guerrear pelo seu povo
Era o que lhe motivava
O sonho da liberdade
Para todos cultivava
Sendo muito decidida
Era até envaidecida
Pela força que ostentava.
Um fator que se destaca
Era o seu radicalismo
Pois não aceitava acordo
Com senhores do racismo
Que ofereciam terras
Para que acabasse a guerra
No interesse do cinismo.
Porque tinha bem certeira
Uma baita opinião:
Liberdade para poucos
Não conforta o coração
O quilombo que existia
Para todos lutaria
Sem abrir uma exceção.
É por isso que Dandara
Tinha fé no guerrear
Confiava nas batalhas
Para tudo transformar
A paz só existiria
Pelo que conquistaria
Para a todos libertar.
Liderava os palmarinos
Lado a lado com Zumbi
Entre espadas e outras armas
Escutava-se o zunir
Dos seus golpes tão certeiros
Que aplicava bem ligeiros
Pra ferir ou confundir.
Certa vez, numa viagem
Sugeriu a invasão
Da cidade de Recife
No meio de um sopetão
E Zumbi ficou chocado
Até mesmo impressionado
Por tamanha ambição.
Não chegaram a completar
O seu plano audacioso
Mas notamos nesse caso
Um exemplo grandioso
Da braveza que mostrava
E Dandara assim reinava
Com Palmares orgulhoso.
Então vale imaginar
As ações que aconteciam
Que os guerreiros de Palmares
Com Dandara concluíam
As senzalas arrombavam
Plantações até queimavam
E em poder evoluíam.
O quilombo dos Palmares
Era assim tão majestoso
Que os brancos despeitados
Tinham um medo horroroso
Planejavam o destruir
Mas chegavam a ruir
Sendo o ataque desastroso.
Muitos anos desse modo
Foi Palmares resistindo
Até que um final ataque
Acabou lhe destruindo
E Zumbi traçou a fuga
Para não largar a luta
Pela mata foi partindo.
Mas Dandara, encurralada
Teve só uma opção
Pra não ser capturada
Nem cair na escravidão
Atirou-se da pedreira
Com convicção inteira
De negar-se à prisão.
Até mesmo a sua morte
De heroísmo foi repleta
E a mensagem que anuncia
Entendemos bem completa:
Rejeitar a rendição
É a nossa condição
Como um grito de alerta.
Há quem diga que Dandara
É um símbolo lendário
Que está representando
Um poder imaginário
Heroína para a gente
Como deusa que ardente
Traz o revolucionário.
Se existiu como se conta
Ou se lenda representa
Para mim tudo resume
Essa luta que apresenta
Baluarte feminina
A guerreira palmarina
Na memória se sustenta.
Dia 20 de novembro
Dia de lembrar Zumbi
É também dessa Dandara
Que devemos incluir
O seu nome celebrado
Sim, merece ser honrado E no peito se sentir.